Quem tem medo dos presbiterianos carismáticos na IPB?
Essa semana uma discussão eclodiu na sempre tumultuada e hostil bolha presbiteriana brasileira do Twitter (sim, me recuso a chamar aquela rede social por outro nome). Mais uma vez trouxeram à tona uma antiga discussão sobre a presença de carismáticos/pentecostais nas fileiras da Igreja Presbiteriana do Brasil. Uma conta anônima publicou algo e isso rapidamente ganhou alguma atenção:
O fato de virem muitos pentecostais e neopentecostais para a IPB tem destruído a doutrina da igreja. Nego (sic) sugere campanha de oração, comércio dentro do templo substituição dos belíssimos hinos e salmos pelos louvores contemporâneos e os idiotas aplaudem
Uma publicação tão rude e infame definitivamente não representa as discussões mais elevadas e significativas entre teólogos respeitáveis quanto a teologia reformada e os movimentos carismáticos e pentecostais, ainda assim recupera alguns aspectos do debate dignos de atenção. Fato é que mais do que ofensas feitas por adolescentes em contas anônimas uma conferência que seria realizada na Igreja Presbiteriana de Alphaville (SP) não resistiu a críticas por querer por ministros reformados e pentecostais na mesma plataforma e foi cancelada.
Um pano de fundo histórico
As indisposições de reformados com movimentos avivalistas são de longa data, é possível traçar uma linha do tempo a pelo menos o século XVIII norte-americano quando o primeiro Grande Despertar varreu as colônias e dividiu os presbiterianos. Quando o Segundo Grande Despertar alcançou novamente os Estados Unidos no século XIX os presbiterianos se separaram entre os da Velha Escola e Nova Escola, os presbiterianos da Nova Escola estavam mais abertos às influências avivalistas ilustradas por ministérios como o de Charles Finney.
No século XX com a efervescência dos movimentos pentecostais os presbiterianos não puderam permanecer alheios à espiritualidade e teologia pentecostal em seus arraiais. Na segunda metade do século muitas denominações presbiterianas já estavam provendo relatórios sobre questões como a Pessoa do Espírito Santo e sua ação na igreja, O Batismo no Espírito Santo, Os Dons místicos e espirituais, a glossolalia e a natureza da profecia e a compatibilidade dos pentecostalismos com a teologia reformada. Em 1970 a então Igreja Presbiteriana Unida dos EUA (UPCUSA) publicou o relatório A Obra do Espírito Santo que além de um profundo estudo teológico apresentava algumas recomendações de caridade e tolerância para todos os grupos e concílios da igreja à medida que tensões com presbiterianos abertos às experiências pentecostais estavam afetando as igrejas:
Seja tolerante e aceite aqueles cujas experiências cristãs diferem das suas.
Apoie e se envolva continuamente em todas as discussões, conferências, reuniões e pessoas em oração.
Esteja aberto a novas maneiras pelas quais Deus, por seu Espírito, pode estar falando à Igreja.
Reconheça que, embora os dons espirituais possam ser abusados, isso não significa que eles devam ser proibidos.
Lembre-se de que, como outros novos movimentos na história da igreja, o neopentecostalismo pode ter uma contribuição válida a dar à Igreja ecumênica. [1]
O mesmo ocorria no ramo sulista presbiteriano e em 1971 a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (PCUS) [2] também produziu seu relatório intitulado A Pessoa e Obra do Espírito Santo, com especial referência ao “Batismo do Espírito Santo”. O relatório da PCUS também evocava uma postura tolerante em relação aos presbiterianos carismáticos:
É claro que há testemunho bíblico e reformado sobre o batismo do Espírito Santo e dons especiais do Espírito Santo na comunidade crente. É claro que é impossível fazer qualquer pronunciamento geral sobre a validade de reivindicações específicas feitas, uma vez que vários fatores podem estar em ação. Mas onde há divisão, julgamento (expresso ou implícito) sobre a vida dos outros, uma atitude de orgulho ou vanglória, etc., o Espírito de Deus não está trabalhando. No entanto, quando tal experiência evidencia uma obra fortalecedora e renovadora de Cristo na vida do indivíduo e da igreja, ela pode ser reconhecida com gratidão. Isto significa, antes de tudo, que Cristo deve ser glorificado, que o seu Espírito se manifeste na vida dos homens e que a Igreja seja edificada. Por tais evidências da presença do Espírito Santo, a Igreja pode se alegrar.
Ao longo dos anos 70 e 80 quando muitas denominações históricas estavam sendo influenciadas por movimentos carismáticos a maioria das denominações presbiterianas parecia aberta em acolher e toleras seus irmãos carismáticos, principalmente quando esses se tornaram um grupo significativo nas batalhas entre conservadores e liberais no presbiterianismo mainline que rapidamente se desmanchava em cismas e divisões. Em 1974, um ano após ser fundada, a Igreja Presbiteriana na América (PCA) [3] emitiu uma carta pastoral sobre o Espírito Santo. A Carta da PCA afirmou que o batismo no Espírito era algo recebido por todos os cristãos ao serem batizados e que muitos dons cessaram após o período apostolíco da igreja, mas apelou para um espírito de caridade na igreja. Mais aberta aos movimentos carismáticos foi a Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC) [4]. Em 1986 a denominação aprovou sua resolução de posicionamento sobre o Espírito Santo:
A EPC afirma os dons do Espírito de Deus como bíblicamente válidos para hoje, e aconselha que eles sejam exercidos sob a orientação da Palavra de Deus e da autoridade da Assembléia local. Uma vez que o Espírito Santo é a fonte da unidade dos cristãos, devemos sempre precaver-nos contra qualquer uso dos dons que levaria à divisão dentro da Igreja. Também afirmamos a prioridade do fruto do Espírito sobre os dons na vida cristã. Por causa de nossa afirmação da validade dos dons espirituais na Igreja hoje, às vezes nos perguntam se somos uma denominação “carismática” (…) A EPC é carismática? Se você quer dizer que somos pentecostais, a resposta é não. Se você quer dizer que estamos abertos aos dons do Espírito Santo, a resposta é sim. Acreditamos que a palavra “carismático” não deve se limitar a manifestações específicas da obra do Espírito Santo, como falar em línguas. No entanto, “carismático” refere-se ao fato de que todo cristão recebe um dom, ou dons, do Espírito Santo (1 Coríntios 12:7,11). Em Romanos 6:23, Paulo afirma “… o salário do pecado é a morte, mas o dom (carisma) de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Isso significa que todos os que nascem de novo, recebendo o dom da vida em Jesus Cristo, são em virtude do dom “carismáticos” no sentido mais amplo da palavra (Efésios 4:7).
Em linhas gerais é possível dizer que nos EUA os presbiterianos carismáticos encontraram em alguma medida alguma tolerância em suas igrejas em certos contextos e sob certas condições mesmo que a tradição calvinista conservadora ainda se mantenha mais comedida com as expressões e teologia pentecostais.
O Caso Brasileiro
Se nas décadas de 1970 e 1980 os presbiterianos carismáticos poderiam encontrar algum espaço em denominações presbiterianas nos EUA, o mesmo não se pode dizer das igrejas no Brasil. Os presbiterianos influenciados pelos movimentos avivalistas que alcançaram as igrejas protestantes na segunda metade do século XX foram em muitos momentos afugentados ou suplantados. No início da década de 1970 duas igrejas presbiterianas já haviam se formado como dissidências de suas igrejas predecessoras, a Igreja Cristã Presbiteriana emergiria da IPB enquanto a Igreja Presbiteriana Independente Renovada da IPIB. Em 1975 as duas igrejas se uniram para formar a Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil.
Em 1995 uma comissão da IPB publicaria a carta pastoral Espírito Santo Hoje: Dons de Línguas e Profecia. A Carta de 1995 produziria um entendimento que as práticas pentecostais de profecia e dons de línguas contemporâneas eram inconsistentes com as escrituras e suas recomendações finais apelavam não para uma postura tolerância com diferenças e práticas carismáticas como as igrejas presbiterianas norte-americanas pretendiam, mas para o esforço em conformar essas diferenças a teologia majoritariamente cessacionista:
A doutrina do batismo com o Espírito Santo, como uma “segunda bênção” distinta da conversão, não deve ser ensinada e nem propagada pelos pastores ou membros nas comunidades, por ser biblicamente equivocada.
Os concílios e igrejas e igrejas locais devem receber com amor e paciência os pastores e membros das igrejas presbiteriana que professam ter sido batizados com o Espírito Santo, numa experiência distinta da conversão, e devem pastoreá-los e instruí-los na escritura e doutrina reformada, para que sejam corrigidos quanto a esse modo de crer, e para que demonstrem o fruto do Espírito, que é o sinal inequívoco de toda atuação verdadeira do Espírito.
Se oficialmente a IPB desaprovou as práticas pentecostais num sentido amplo, ela se concentrou no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000 em novas feições do pentecostalismo, particularmente aquelas convencionalmente chamadas de neopentecostais, sendo assim foi a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) o objeto de particular interesse dos presbiterianos. Em 1998 a IPB determinou que membros da IURD deveriam ser rebatizados para serem admitidos na denominação, posição reafirmada em 2006. Mas foi em 2010 que a IURD seria por fim reconhecida como seita pela IPB.
A partir de 2010 a IPB iniciaria de forma mais acentuada uma sucessão de discussões e políticas de realinhamento teológico, esse ajustamento viria com implicações para os carismáticos da denominação. Em 2010 a denominação afirma a proibição de danças no culto público e começa o debate sobre a mudança em sua logomarca, removendo a pomba originalmente presente na sarça, a justificativa para a remoção da pomba da sarça vinha com o argumento confessional de não produzir imagens da Trindade, mas também significava que os carismáticos estavam perdendo o maior símbolo pentecostal na identidade visual da igreja. No mesmo ano uma antiga controvérsia sobre a prática de ungir pessoas com óleo, comum entre os mais carismáticos, também voltava aos concílios da igreja para que emitisse resolução. Em 2014 a prática da unção com óleo foi admitida com reservas, “realizada, exclusivamente em pessoas, nunca em objetos, pelos pastores e presbíteros somente quando forem convidados por membros enfermos de suas igrejas, em suas casas”. Em 2018 após a mobilização de conservadores a resolução de 2014 foi revogada e ungir pessoas com óleo não é oficialmente permitido em nenhuma situação prescrita na IPB. Em 2018 e 2022 a IPB limitou drasticamente a atuação de mulheres pregadoras e missionárias, algo comumente apreciado e apoiado entre os presbiterianos mais carismáticos.
Mesmo não sendo um grupo oficialmente reconhecido nas resoluções da denominação os carismáticos constituem um grupo significativo nas comunidades locais presbiterianas e não é exagero dizer que o pregador presbiteriano mais popular tem evidentes alinhamentos carismáticos, Hernandes Dias Lopes. Hernandes transita muito facilmente como pregador convidado em igrejas pentecostais, ele já afirmou algumas vezes sobre a importância de unir a teologia reformada com o fervor pentecostale por essa razão sua popularidade não o faz imune às críticas vindas de sua própria denominação entre aqueles que rejeitam influências carismáticas em igrejas reformadas.
Mas se alguns repelem qualquer conjunção entre teologia reformada e pentecostal existem esforços propositivos na direção de afirmar a razoabilidade das duas tradições. Em 2018 John e Walter McAlister publicam o muito comentando O Pentecostal Reformado como uma espécie de tratado-manifesto em defesa da possibilidade legítima e necessária de unir a teologia reformada e a mística e disposições carismáticas e pentecostais. John McAlister disse:
O resultado da síntese pentecostal-reformada, aos olhos deste autor e da sua denominação no Brasil de confissão reformada e pentecostal — a Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida — é uma combinação entre os distintivos doutrinários centrais da tradição reformada e os elementos característicos da espiritualidade pentecostal. Por um lado, nós pentecostais reformados aderimos firmemente aos cinco ‘solas’ do protestantismo (sola Scriptura, solus Christus, sola gratia, sola fide, soli Deo gloria) e também às doutrinas da graça (depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos), o que representa uma ruptura com as nossas raízes arminianas. Nesse particular, cremos que os distintivos doutrinários reformados melhor preservam a centralidade e a suficiência da graça soberana de Deus na proclamação do evangelho, autenticada pela ação sobrenatural do Espírito Santo.
McAlister aqui tenta afirmar os distintivos reformados por excelência e se distanciar de experiências reformadas carismáticas, seguramente apontadas pelos críticos, que rapidamente abandonam um ethos tipicamente reformado e protestante e assumem rapidamente características de um evangelicalismo amplo, consideremos o caso da Igreja Presbiteriana Renovada que conquanto preserve uma estrutura de governo presbiteriana não se identifica em nada com uma teologia reformada, a IPRB não é conhecida por exemplo por preservar ritos como o batismo infantil. É possível mencionar outras igrejas oriundas de comunidades presbiterianas que em contato com experiências de avivamento deixaram suas denominações e deram origem a igrejas carismáticas que em nada preservam algum distintivo reformado como a Igreja Cristã Maranata.
Os carismáticos na IPB ainda exigem maior entendimento e compreensão, a própria definição do que é um presbiteriano carismático ainda não é evidente [5]. Os presbiterianos carismáticos na IPB abrangem um vasto grupo de crentes em suas múltiplas experiências teológicas, litúrgicas e espirituais, podendo significar de fato os presbiterianos amplamente e declaradamente continuístas até aqueles mais abertos a uma adoração e devoção espontânea em oposição ao culto reformado ordeiro, engessado e restrito. Os carismáticos na IPB podem querer enfatizar mais disciplinas espirituais como jejum e campanhas de oração, práticas amplamente associadas aos pentecostais ou também constituem grupos de renovação institucional e engajamento missional. Muitas das maiores igrejas e mais influentes comunidades presbiterianas possuem identificações carismáticas. Uma das mais notáveis é a Igreja Presbiteriana de Pinheiros em São Paulo, mas é possível mencionar outras igualmente reconhecíveis e contadas entre as maiores comunidades em regiões metropolitanas da IPB, incluindo a Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte, a Igreja Presbiteriana de Alphaville em São Paulo, a Igreja Presbiteriana Central de Londrina [6]ou a Igreja Presbiteriana de Manaus [7].
A Igreja Presbiteriana de Pinheiros (IPP) se destaca por ter se constituído como uma mega-igreja engajada e propositiva, o que não deixa de vir acompanhado de controvérsias. O pastor titular de Pinheiros, o Rev. Arival Casimiro, é conhecido por sempre recuperar um discurso que afirma que todo cristão é pentecostal, a afirmação pode soar comprometedora para alguns, mas Arival se justifica em termos bíblicos, ele escreveu em uma publicação no Facebook em 2017:
Todo cristão que vive entre o Pentecostes e a Segunda Vinda de Cristo pode ser considerado pentecostal. Foi no Pentecostes, que o Espírito Santo foi derramado sobre a igreja, de forma permanente e única. A era do Espírito ou Pentecostal foi inaugurada quando Jesus enviou o Espírito a terra. Um padrão bíblico e teológico foi inaugurado: todo cristão regenerado recebe a pessoa do Espírito no ato da sua conversão ou regeneração (…)
Pinheiros consolidou sua feição carismática quando fez de Hernandes Dias Lopes um de seus pastores adjuntos e pregador recorrente, e mesmo sendo uma igreja controversa a igreja de Pinheiros possui um envolvimento com diversas causas, têm sua própria editora e Junta de Missões Nacionais e Internacionais. O engajamento missionário da IPP se tornou tão significativo que hoje a igreja consegue plantar e revitalizar igrejas presbiterianas em todo o país, se tornando um modelo para grandes igrejas da denominação. Segundo dados do relatório da Tesouraria do Supremo Concílio de 2023 a IPP é a maior contribuinte financeira ao Supremo Concílio e é acompanhada de várias outras igrejas consideradas minimamente carismáticas na IPB. Essas igrejas, mesmo que sejam estigmatizadas por certos discursos na denominação, possuem posições de privilégio e prestígio institucional enquanto grandes igrejas abastadas e engajadas localizadas nos grandes centros urbanos brasileiros. Igrejas carismáticas de pequeno porte em outros contextos regionais e institucionais podem talvez não receber o mesmo tratamento e garantias.
Quem tem medo dos presbiterianos carismáticos na IPB?
Os presbiterianos carismáticos nunca foram oficialmente reconhecidos e celebrados dentro da IPB e à medida que um acirramento conservador crescente procura estabelecer uma uniformidade de práticas eclesiológicas, teológicas e litúrgicas na denominação, os presbiterianos carismáticos recorrentemente são simplesmente convidados a se conformar ou se retirar, assim como outros grupos minoritários.
Na última década os presbiterianos e outros reformados foram surpreendidos por um interesse renovado pela teologia protestante histórica e particularmente pela teologia reformada. Muitos presbiterianos viram suas igrejas serem acessadas por evangélicos vindos de igrejas pentecostais e neopentecostais à procura de comunidades de fé com teologias robustas, bíblicas e saudáveis. Alguns deles definitivamente se despojaram de suas origens pentecostais se tornando os mais ardentes opositores de formas carismáticas nas fileiras presbiterianas, já outros procuram alinhar sua espiritualidade e devoção de origens carismáticas com uma vasta e rica tradição reformada disponível entre os presbiterianos.
Os presbiterianos carismáticos constituem movimentos crescentes e reconhecidos de um presbiterianismo que se abre as possibilidades de uma teologia reformada sacudida pelos avivamentos pentecostais. Os conservadores temem que essa associação comprometa a identidade e teologia reformadas, a primazia das escrituras e confissões e o zelo pelo culto ordeiro e simples. Os mais moderados e mesmo os mais progressistas suspeitam que a influência pentecostal venha acompanhada do acentuamento do fundamentalismo, do personalismo episcopal e autoritarismo eclesiástico e do abandono de uma teologia reformada sóbria. Experiências carismáticas entre congregacionais, metodistas, anglicanos, batistas e luteranos mostraram em alguma medida como essas descaracterizações denominacionais e confessionais ocorreram.
O grande desafio dos presbiterianos carismáticos é mostrar que ainda são profundamente presbiterianos, demonstrando que seu fervor carismático está combinado com uma paixão pela tradição reformada e que isso os ajuda tanto a dissipar a aridez da teologia reformada como também os excessos pentecostais e neopentecostais. Esses presbiterianos ganham quando conseguem mostrar sua consistência teológica ao mesmo tempo em que conseguem ser graciosos quando falam de seus extraordinários testemunhos de conversão e de vida cristã através de experiências místicas e carismáticas, quando seus críticos reformados forem os examinar e julgar por coisas como campanhas de oração e liturgia contemporânea é esse testemunho que será útil para provar a legitimidade de seus ministérios e comunidades. O fato de muitas igrejas carismáticas na IPB serem as mais engajadas em movimentos de missões, plantação e revitalização de igrejas mostra como esses movimentos possuem meios de se tornarem mais presentes na denominação e difíceis de contornar em certo momento. Muitos de seus detratores ainda permanecem em um presbiterianismo de gueto, os presbiterianos carismáticos ao contrário têm mais chances de gerar igrejas mais orgânicas e populares que não confinem os presbiterianos em bolsões sociais restritos de classes médias.
Os presbiterianos carismáticos na IPB podem começar se atentando a um dos autores mais dispostos a conjugar teologia reformada e experiência pentecostal, o filósofo e teólogo James K. A. Smith. Ele escreveu ainda em 2008 enquanto um calvinista pentecostal sobre ensinar calvinistas a dançarem, Smith recordava que as origens da igreja cristã são pentecostais:
Como os pentecostais vivem a afirmação reformada tanto da soberania de Deus quanto da bondade da corporificação, não sinto muita tensão entre esses aspectos centrais da identidade reformada e a espiritualidade pentecostal. A explosão da obra do Espírito no cristianismo mundial nos lembra que o DNA da igreja é pentecostal. É importante que os cristãos reformados não tenham medo disso e, de fato, vejam nisso um convite do Espírito para viver as intuições reformadas sobre as quais falamos o tempo todo.
Notas:
[1] O relatório da UPCUSA tem uma definição distinta de neopentecostalismo em comparação ao uso coloquial e mesmo sociológico no contexto brasileiro, segundo o relatório o neopentecostalismo é “o fenômeno das experiências “pentecostais” dentro das Igrejas tradicionais.
[2] Em 1983 a Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos da América (UPCUSA), também chamada de igreja do Norte, se fundiu com a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (PCUS), a igreja do Sul, e juntas formaram a atual PC(USA) ou Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América.
[3] A PCA foi criada em 1973 por um grupo de conservadores que deixaram a PCUS insatisfeitos com os rumos da denominação sulista que anos mais tarde se uniria com sua contra-parte mais liberal para formar a PC(USA). Atualmente a PCA é a segunda maior denominação presbiteriana dos EUA sendo a maior entre as igrejas reformadas conservadoras.
[4] A EPC surgiu como dissidência conservadora da UPCUSA em 1981 e ao contrário da PCA assumiu posturas mais moderadas. A EPC permite que suas igrejas tenham liberdade em questões consideradas não essenciais e por isso assegura que questões como a ordenação de mulheres sejam facultativas em igrejas e presbitérios. A EPC é uma aliada histórica da IPB sendo a denominação responsável por apoiar a igreja brasileira quando da criação do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper.
[5] É possível discutir até que ponto carismático ou pentecostal são de fato termos intercambiáveis e querem se referir à mesma coisa teologicamente.
[6] A igreja de Londrina possui um histórico considerável de controvérsias por sua postura carismática, entre as mais conhecidas está a de já ter feito culto de derrubada das muralhas: IPB Central Londrina Semana do Clamor Derrubando Muralhas.
[7] A igreja de Manaus vai hospedar a reunião da Assembleia Geral (Supremo Concílio) da IPB em 2026.