Homossexualidade e Cuidado Pastoral: Uma palavra para as congregações. (Parte 1)

Jared Victor
8 min readDec 7, 2022

Há tempos denominações publicam relatórios teológicos redigidos por comissões qualificadas que se debruçam nas questões mais confrontantes e contraditórias e fornecem um documento que permita que a instituição, seus líderes e membros possam ter um lugar comum para esclarecimentos, recursos pastorais e políticas eclesiásticas que lidem com alguma questão da melhor maneira possível. É o caso da Igreja Cristã Reformada (Christian Reformed Church in North America, CRCNA ou apenas CRC), uma denominação de orientação reformada holandesa estabelecida nos Estados Unidos e Canadá.

Desde 1973 a CRC se juntou a várias outras denominações na emissão de pareceres sobre a Homossexualidade, e desde então tem reiterado e adicionado novos recursos as discussões sobre o tema. A última dessas publicações foi o monumental Relatório sobre Sexualidade Humana que abrangeu diversos tópicos de sexualidade e que foi submetido para apreciação e aprovação e apreciação do Sínodo Nacional da CRC em 2022. O relatório foi aprovado e hoje faz parte dos recursos da denominação para que igrejas locais possam estuda-lo e utiliza-lo em grupos de formação.

Esse documento provavelmente é o melhor exemplo de como uma denominação deveria estruturar seus relatórios teológicos e a medida que a CRC é uma denominação conservadora de centro o relatório mantém um tom de afirmação da ética cristã tradicional mas que consegue dialogar com outras teológias, principalmente as chamadas do espectro do Lado B.

A porção que seque é a primeira parte retirada da seção do relatório que contém as recomendações pastorais que se subedivide em recomendações para congregações, líderes e pessoas LGBTA+/AMS.

Homossexualidade e Cuidado Pastoral: Uma Palavra para as Congregações.

Philip * foi à escola dominical quando criança na igreja que seus pais frequentavam ocasionalmente. Ao sair da universidade, Phillip não teve nenhum interesse particular no Cristianismo até que se tornou um ativista pela habitação e outras questões de justiça na cidade. Aqui ele conheceu alguns cristãos que moravam juntos em uma casa e costumavam oferecer hospitalidade a seus vizinhos de baixa renda. Por meio da fé deles, Filipe conheceu Jesus e teve amizades mais profundas do que nunca. Philip ficou impressionado com a forma como esses amigos cristãos se apoiavam em seus casamentos ou em uma vida celibatária por meio de orações e conversas honestas sobre suas lutas. Eventualmente, a sexualidade de Philip e sua fé cristã estavam em conflito real. Ele acabou terminando com seu parceiro, percebendo que os valores deles eram muito diferentes. Embora alguns anos sejam mais difíceis do que outros, Filipe encontrou comunidade e já faz dez anos que segue Jesus dia a dia. Philip é um dos líderes mais fortes de sua igreja.

Darrell*, 32 anos (branco), é um diretor de um conjunto residencial assumidamente gay em uma grande universidade secular. Sua equipe de assistentes residentes de graduação incluía duas pessoas que faziam parte de uma congregação cristã reformada local. Darrell, que não tinha igreja, começou a visitar o culto dominical e logo desenvolveu um bom relacionamento com o pastor e vários outros adultos solteiros, apesar de saber sobre a ética sexual da igreja de celibato e oposição ao casamento do mesmo sexo. Enquanto ele continuava a explorar o Cristianismo, Darrell, a seu pedido, foi adicionado à rotação de voluntários que liam as Escrituras e faziam anúncios durante o culto. Pouco depois, Darrell disse ao pastor que estava espalhando a notícia no campus da universidade de que a congregação era gay-friendly. O pastor ficou surpreso e exortou Darrell a certificar-se de que todos os amigos gays que ele convidou estivam cientes dos ensinamentos da igreja sobre sexo. Darrell explicou que, como a igreja era amigável e honesta, ele se sentiu à vontade para frequentá-la e pensou que outras pessoas também iriam.

  1. Arrependimento

A resposta da igreja à homossexualidade deve começar com confissão e lamento. Apesar das repetidas e fortes exortações de relatórios de comitês de estudos anteriores para amar e cuidar de irmãos e irmãs que são atraídos por pessoas do mesmo sexo como membros iguais do corpo de Cristo, a igreja com frequência rejeitou, evitou ou ignorou esses seguidores de Jesus. As congregações precisam examinar honestamente suas atitudes e ações em relação às pessoas que são atraídas pelo mesmo sexo e precisam se arrepender quando tais atitudes e ações são pecaminosas: tratar os homossexuais como se fossem pecadores piores do que aqueles que são pegos na pornografia, sexo antes do casamento ou sexo extraconjugal; negligenciá-los em posições de liderança, incluindo os de pastor, presbítero e diácono, em vez de considerar se eles estão, como todos os oficiais precisam estar, vivendo uma vida santa e piedosa; mantê-los física e emocionalmente distantes porque fazem alguns se sentirem desconfortáveis; deixando de ser solidários com eles como irmãos e irmãs em Cristo. Por todas essas e muitas outras maneiras inadequadas pelas quais a igreja normalmente trata as pessoas em seu meio que são atraídas por pessoas do mesmo sexo, as congregações devem reconhecer suas atitudes e ações pelo que são — pecado — e pedir perdão e cura a Deus.

2. Ensino

As congregações precisam ser claramente ensinadas ou lembradas de que a experiência de atração pelo mesmo sexo não é pecaminosa em si. Cerca de cinquenta anos atrás, o primeiro relatório da ICR sobre homossexualidade explicou que a sexualidade é “o desejo de dar e receber em intimidade para que a ‘solidão’ de uma pessoa seja revogada.”. O relatório então fez uma distinção clara entre o anseio por essa intimidade e a atividade sexual. Também exortou a igreja a dar as boas-vindas a cristãos piedosos que são atraídos por pessoas do mesmo sexo para o uso de seus dons espirituais e a incluí-los em todos os sentidos. Um dos grandes danos que a igreja tem feito é referir-se a qualquer pessoa que seja atraída por outras do mesmo sexo como um pecador simplesmente por causa da experiência dessa atração. O fato de alguns membros da igreja estarem especialmente cientes emocionalmente de sua atração pelo mesmo sexo da mesma forma que a maioria das outras pessoas que são atraídas pelo sexo oposto não é em si um desejo pecaminoso, nem mesmo uma tentação sexual. Em vez disso, a Bíblia ensina que agir de acordo com esse desejo sexual errado é pecado (Tiago 1: 13–15). Jesus diz que até mesmo olhar para alguém com desejo é pecado (Mt 5:28). Na verdade, é pecado alimentar o desejo sexual por alguém com quem não somos casados. A atração sexual se torna pecado quando nos permitimos desejar uma determinada pessoa ou ato sexual, a menos que seja nosso cônjuge com quem estamos iniciando o ato sexual. Martinho Lutero supostamente disse: “Você não pode impedir os pássaros de voarem sobre sua cabeça, mas pode impedir que eles se aninhem em seu cabelo.” Não importa quantas vezes eles experimentem atração sexual, os crentes maduros aprendem a rejeitar a tentação inicial de agir de acordo com seu desejo sexual. Pedro repetidamente nos chama para disciplinar nossas mentes dessa maneira (1 Pe. 1:13; 2:11; 4:1–2, 7).

3. Falsas Expectativas

As congregações precisam reconhecer que promover a ideia de que os crentes que são atraídos pelo mesmo sexo podem esperar sentir atração pelo sexo oposto à medida que amadurecem espiritualmente não é apenas errado, mas pode ser muito prejudicial. Quando a organização protetiva e “ex-gay” Exodus foi dissolvida em 2013, eles se desculparam publicamente por promover a ideia de que as pessoas poderiam mudar sua orientação de homossexual para heterossexual. O slogan do Exodus era “A mudança é possível”. Ainda assim, por décadas, muitos de seus líderes de ministério esconderam não apenas a atração contínua pelo mesmo sexo, mas até mesmo um retorno aos relacionamentos gays. Ao mesmo tempo, numerosos homens e mulheres acreditaram na tentativa desesperada de serem heterossexuais, sentindo-se envergonhados por não serem espirituais o suficiente para mudar. Ao mesmo tempo, grande parte da igreja abraçou e promoveu essa noção falaciosa de mudança, ferindo incontáveis ​​crianças vulneráveis ​​da igreja.

A Bíblia fala sobre o comportamento sexual dos crentes, mas não descreve uma orientação para a homossexualidade ou para a heterossexualidade. Enquanto a maioria dos cristãos descreve uma diminuição das tentações sexuais ao praticar as disciplinas espirituais de oração, confissão mútua, adoração e meditação nas Escrituras, a Bíblia nos diz que o maligno trava guerra contra nossas almas. Assim, todos os crentes podem esperar lutar contra suas mais profundas tentações de egoísmo, luxúria, orgulho, arrogância e violência. No entanto, a comunidade da igreja oferece a todos a graça de Deus para permitir uma vida sagrada. Todos os crentes podem ter certeza de que, como Jesus, o Espírito Santo nos ajudará a evitar o pecado sexual.

Como filhos de nosso Pai celestial, agora estamos livres para obedecer a Deus porque o poder do pecado sobre nós foi quebrado (Rom. 6).

4. Conselhos práticos

As congregações devem criar comunhão e comunidade genuínas para solteiros e casados ​​de todas as idades, praticando hospitalidade, santidade, honestidade e humildade:

  • Pratique a hospitalidade dando as boas-vindas tanto aos irmãos crentes quanto aos não-cristãos em seus locais de moradia e em suas vidas (2 Coríntios 6–7; Hebreus 13).
  • - Busquem a santidade sexual para vocês mesmos e encorajem-na em suas irmãs e irmãos com suas orações e apoio prático (Hb 12; Rm 12).
  • - Honestamente, admita sua constante necessidade de graça e recorra aos colegas crentes para apoio (Tiago 5; 1 João 1–5).
  • - Humildemente peça ajuda a outros crentes com suas tentações mais profundas (Tiago 5; 1 Pedro 5).

Pastores, presbíteros e diáconos devem liderar isso, servindo pelo exemplo. Devem confessar regularmente seus pecados, reconhecer suas lutas e oferecer perdão e encorajamento aos outros. Eles devem falar sobre as maneiras pelas quais Deus os capacitou a lutar contra várias tentações ou pecados persistentes. Isso encorajará os membros do corpo a fazerem o mesmo, tendo a certeza de que também serão recebidos com graça. Os oficiais da igreja e outros cristãos maduros devem procurar aqueles que parecem mais vulneráveis, orando com eles e demonstrando hospitalidade e amizade. Eles devem estar preparados para oferecer apoio espiritual e material sempre que necessário. Em termos práticos, as congregações devem procurar construir intimidade entre os crentes. Isso pode acontecer em pequenos grupos que se reúnem para oração, adoração, comida, recreação e apoio mútuo. Esses grupos devem consistir de solteiros, casais e famílias, incluindo pessoas de várias idades. Também pode vir na forma de amizades em que duas ou mais pessoas se comprometem a ajudar uma à outra a enfrentar os desafios e alegrias da vida. Independentemente de como ocorre a comunhão de apoio, como congregações, devemos garantir que todos os crentes sejam incluídos na rede de tais relacionamentos. Faça um plano de ação concreto para desenvolver uma comunidade amorosa que inclua pessoas de todas as idades e estado civil. Incentive os grupos de crentes a se reunirem para as refeições nas casas. Incentive-os a passar férias ou ocasiões especiais com pessoas que não pertencem à sua família ou rede de amigos, como Jesus nos ordenou que fizéssemos (Lucas 14: 12–14). Cristãos maduros devem modelar e encorajar amizades entre pessoas de todas as idades e gêneros.

As congregações também devem chamar pessoas que são atraídas pelo mesmo sexo para posições reconhecidas de serviço e liderança. Tendo sido condenados ao ostracismo por tanto tempo, muitos precisarão de apoio e encorajamento para usar seus dons para o bem do corpo. Eles devem ser encorajados a usar suas experiências únicas — incluindo sua atração pelo mesmo sexo — para ajudar outras pessoas. A igreja precisa de mais pessoas piedosas que sejam atraídas pelo mesmo sexo para servir como pastores, presbíteros e diáconos.

* Ao longo do relatório vários relatos verídicos são alocados ao longo dos textos. O nome das pessoas foi alterado.

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